REFÉM DE MIM

mujer-cortandose-el-cabello-con-tijeras

Quando entramos em contato com situações que eliciam (dão o start, o gatilho) pensamentos negativos a nosso próprio respeito, certezas, verdades absolutas, profundas que nem ousamos questionar em nosso cotidiano (CRENÇAS CENTRAIS), apenas as seguimos automaticamente de forma disfuncional / distorcidas. Passamos a nos comportar de forma distorcida também, a fim de não confirmarmos aquilo que é tão difícil para nós aceitarmos de nós mesmos. Fazendo um esforço comportamental absurdo para fugir de tais pensamentos, acabamos nos colando numa posição de reféns das crenças distorcidas que temos de nós mesmos, reforçando assim a necessidade de se pôr nessa posição para evitar entrar em contato com tais crenças que determinam emoções negativas, gerando com isso um padrão (Crença Regra).
Por exemplo:
Joana cresceu ouvindo que era responsável pela separação dos pais, quando começou a namorar, foi também responsabilizada pelo término das relações, Joana começou a acreditar que de fato era uma pessoa ruim, má ( CRENÇA CENTRAL de DESVALOR) , porém ela não pensava isso de forma racional, era algo que surgia quando ela se deparava com determinadas situações em que eliciavam essa crença, seja em sua vida amorosa, pessoal ou profissional. Sempre que encontrava uma situação assim, Joana fazia esforços comportamentais absurdos, chegando a parecer estranha em alguns momentos, no afã de não entrar em contato com a crença de que é má.
No trabalho, sempre que tinha que chamar atenção de algum funcionário, acabava logo depois de chamar atenção do funcionário, a dar algum benefício ao mesmo, para evitar que o mesmo pensasse que ela era má. Na vida amorosa, sempre após determinada discussão com o namorado, Joana passava a fazer todas as vontades do mesmo, por mais que isso fosse contra seus princípios éticos e morais e assim também era com as amizades.
Joana passa então a ter um padrão de sempre querer provar aos outros que não é uma pessoa ruim, má, pois dói muito a ela quando, erroneamente, ela pensa que os outros vão pensar isso dela. Na verdade Joana têm passado a vida toda tentando provar para ela mesma que ela não é uma pessoa ruim, má, porém não percebe todos os comportamentos desesperados que emite para provar isso a si mesma.

julgar
Todos nós temos crenças e padrões (regras) distorcidos que surgem para que nos adaptemos a conviver com essas certezas tão doloridas. É fundamental no processo terapêutico que se atinjam as crenças centrais para que elas possam ser avaliadas, questionadas e reestruturadas, e assim consigamos ter uma vida mais estável, com maior qualidade e mais próxima da realidade.
Pietro Minotto
Terapeuta Cognitivo-Comportamental

 

  • O exemplo supra citado é totalmente fictício.

(im)PERFEIÇÃO

20160718-castigo-disciplina2

Nos dias atuais estamos nos esquecendo de como é ser criança, seja pelo bombardeamento das mídias (todas), seja pela concorrência precoce vista nas escolas, seja pelo anseio de pais em quererem ver seus filhos como os melhores (em tudo).

Estamos perdendo a inocência cada vez mais cedo, movimentados por uma “adultificação” de nossas crianças,  inventamos pílulas do bom comportamento, diagnostica-se com transtornos de hiperatividade ou déficit de atenção como nunca antes na história do planeta… e não se tenta chegar às causas, ou motivação destes “transtornos”. Não observam aquele pai ou mãe que sai para trabalhar pela manhã, só volta a noite, não “tem” tempo para aproveitar a companhia do filho, só há tempo para as cobranças, só sobra tempo para cobrar um nota melhor, ou cobrar um comportamento mais adequado, ou seja, mostrar como a criança está se tornando imperfeita. Mas o que será que a criança quer mostrar com seu comportamento inadequado?

A invalidação do discurso da criança é uma forma cruel de lhe ensinar a viver o e no mundo, sendo dentre outros aspectos, uma forma de fomentar crenças centrais distorcidas e desfuncionais na vida desse ser humano em construção. Com o passar dos anos algumas crenças centrais que essa pessoa poderá desenvolver são: “Sou incompetente”; “Sou burro”; “Sou um zé ruela”; “Sou ruim”; “Eu não presto”; “Faço tudo errado”. Criando formas de lidar (regras) com essas crenças centrais tão pesadas: “Já que sou burro, então nem adianta eu tentar”; “Como sou incompetente, então nem devo iniciar”; “Já que faço tudo errado, então se algo sair errado a culpa é minha”.

Isso pode trazer danos para o ser humano em toda áreas da vida possíveis, veja bem, no trabalho poderá se tornar uma pessoa sem iniciativa, pois terá um medo constante em cometer um erro, ainda no âmbito profissional, quando levar a culpa por algum erro que não cometeu, estará internalizando que deve ter cometido algum erro, pois afinal… “Já que faço tudo errado, então se algo sair errado a culpa é minha”. No âmbito amoroso, pode ser difícil ter iniciativa para tentar alguma coisa com alguém, afinal quem irá querer uma pessoa “zé ruela”? Quem irá querer uma pessoa que “não presta”? Na área acadêmica, podemos perceber que esse padrões irão se repetir, a pessoa começará a guardar suas dúvidas consigo, pois não “é inteligente o suficiente para fazer uma pergunta em sala de aula”, ou ainda não dará continuidade aos estudos, pois se formar foi um “milagre”, pois como é que uma “pessoa burra se formou? só pode ser milagre”. Esses são alguns exemplos de como a invalidação constante do discurso ao longo da vida de uma pessoa e principalmente na fase de desenvolvimento, pode afetar toda uma vida.

Claro que não há como validar todo e qualquer discurso dos pequeninos, mas é preciso saber o que reforçar, o que não reforçar, saber identificar o que é “normal” da infância e adolescência e o que é medo e preocupação (em demasia) dos pais.

Que tal entrarmos nessa corrente por uma maior validação do discurso do outro, usarmos da nossa empatia, para compreender o mundo do outro, um esforço para diminuirmos o julgamento que temos sobre o outro e passarmos a nos interessar mais em compreender como o outro percebe esse mundo que é vivido por tantos e de tantas formas distintas.

Pietro Balmberg Minotto
Psicólogo Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamento

Extremos da Autoestima

autoestima

Nos dias atuais é muito desejado ter “autoestima” elevada, diria até que um sinal de status, por anos esta foi e quiçá ainda é uma palavra da ‘moda”. Mas o que seria a tal autoestima?

Autoestima faz parte do conjunto chamado de autoconceito, formado também por autoconfiança e autoimagem. No entanto usamos no dia-a-dia a palavra autoestima para designar este grupo.

Os extremos costumam trazer disfuncionalidade em nossas vidas, ou seja, quando sentimos muito (exageradamente) ou quando sentimos nada (exageradamente), este comportamento extremista (o que beira os extremos) costuma trazer efeitos colaterais em nossas vidas (prejuízos).

Com a “autoestima” não seria diferente, ao vivermos em extremos, podemos ou nos anular, ou nos glorificarmos em determinaras situações, vejamos exemplos destas situações:

                Joyce uma moça de 26 anos, tem uma crença de que é responsável por tudo que as pessoas atribuem a ela (“se dizem que sou responsável por algo, então eu devo ser”), percebe-se aqui que sua “autoestima” está rebaixada. Certa vez no seu ambiente de trabalho, seus colegas começaram a delegar várias atividades de sua responsabilidade a Joyce, que não assertivamente aceitou fazer as atividades dos colegas, no entanto não conseguiu completar todas as atividades, Joyce então sentiu um enorme sentimento de culpa e a necessidade de desculpar-se a todo instante (por algo que não era de sua responsabilidade). Percebe-se com o exemplo supracitado que a baixa autoestima acarreta prejuízos em diversas áreas na vida de um indivíduo, podendo esta autoestima rebaixada estar correlacionada com algum transtorno.

                Já no caso de Robson, um jovem empresário promissor, tem a autoestima elevada (beirando o exagero). Robson acredita ser especial (mais que os outros, acima dos outros), acredita merecer regras especiais, regalias e gestos especiais, pois afinal ele é especial. Quando Robson está preso em um engarrafamento no trânsito, passa a dirigir pelo acostamento, colocando a vida de ciclistas em perigo, e burlando as leis, já foi multado por esse motivo, fato que acarretou em irritação, pois ele não aceita ser tratado como um igual aos demais, pois para ele, merecia regras especiais. Quando está em uma fila do banco, Robson dá um jeito para furar a fila, chama o gerente, ameaça tirar sua conta da agência, pois não pode ficar na fila de “pessoas comuns”. A elevadíssima autoestima de Robson acarreta em prejuízos à sua vida, pois as pessoas começam a se afastar, constantemente recebe multas de trânsito, e recebe advertências em vários locais nos quais não cumpre regras.

Em ambos exemplos, percebemos que extremos de autoestima acarretam em consequências negativas para nossas vidas. Podemos ou nos tornar seres sem identidade própria, nos anulando como indivíduos, ou podemos nos tornar extremamente egoístas, pensando que somos melhores que os demais indivíduos. É preciso encontrar o meio-termo!

Você conhece alguém que possa estar tendo prejuízos na vida por causa de autoestima? Alguém que viva nos extremos da autoestima? Não é preciso continuar em sofrimento, e com prejuízos na vida, procure um profissional da Psicologia!

P.S1; O presente texto usa personagens fictícios.

P.S2; O presente texto exclui qualquer transtorno (diagnóstico eixo 1 e 2) que as personagens possam ter, focando-se apenas na “autoestima”/ autoconceitos.

Pietro B. Minotto

Psicólogo Terapeuta Cognitivo-Comportamental.

Organização Que Ajuda

images

Quando falamos em organizar a vida, seja com tabelas, planilhas e etc, pode parecer um tanto quanto estranho, no entanto é uma ferramenta muito válida.

Quando não temos o costume de nos organizarmos (e aqui não falo em ter uma “obsessão” pela organização) todos nossos planos, compromissos, responsabilidades, ficam apenas em nossas mentes. Temos que lembrar que na “próxima quarta-feria às 15:00 tem dentista”, que no “dia 20/12 tem que entregar a monografia” e por aí vai… deixando o cérebro, de certo modo, sobrecarregado de preocupações (nem sempre produtivas).

Voltando esse cenário para uma visão mais cognitiva, iremos perceber que, talvez, uma pessoa que tenha algum transtorno de ansiedade, poderá ter diversos pensamentos automáticos em relação a essas situações mencionadas acima. Por exemplo, se uma pessoa precisa entregar uma monografia, que já está praticamente finalizada, para o dia 20/12, então ainda restam a ela 12 dias para a entrega, se a mesma escrever 2 páginas por dia, então teremos 24 páginas até o dia 20/12, mas o pensamento automático que essa pessoa possa vir a ter diante dessa situação, pode fazer com que ela procrastine a entrega da monografia. Digamos que o pensamento automático que ela teve foi: “Eu sou muito incopetente, nunca irei conseguir terminar esse trabalho”, isso geraria então uma série de emoções negativas, como tristeza, raiva e mais ansiedade, e por consequência menor motivação de finalizar o trabalho (é um processo muito complexo em que diversas crenças centrais distorcidas são eliciadas).

Se atentarmos para o exemplo da situação de “quarta-feira às 15:00, tem dentista”, e por acaso essa pessoa esqueça, de repente já estava muito preocupada com outros compromissos, esqueceu-se de colocar no calendário ou na agenda e o compromisso “passou batido”… O fato de ter esquecido, também pode gerar muitos pensamentos automáticos, como por exemplo: “Nossa como é que eu fui esquecer o dentista??? E agora? Como é que vou olhar novamente para o dentista? Ele deve estar me odiando!!! Eu sou um lixo”, gerando então um sentimento grande de culpa, raiva de si e muita ansiedade, fazendo com que talvez essa pessoa nunca mais volte a esse mesmo dentista.

Em contrapartida, ao nos organizarmos, seja com planilhas, tabelas, agendas ou qualquer outra forma, estaremos nos permitindo a dividirmos nossas preocupações entre reais ou imaginárias, estaremos “tirando” uma preocupação da mente, colocando num papel e nos possibilitando analisar com cautela se tal preocupação é de fato produtiva, ou seja, se de fato é real e tão emergencial como julgamos anteriormente, ou se nossa preocupação era mais imaginária e não tão emergencial como parecia ser. Isso nos possibilita a questionarmos nossos pensamentos anteriores para então chegarmos, de certo modo, a uma reestruturação cognitiva, mudando a nossa forma de pensar diante as mesmas situações.

Será que buscar um nível sadio de organização, não nos tornando obsessivos em relação a organização, não nos ajudaria a ficarmos menos preocupados e de certo modo, ficarmos até mais relaxados e calmos?

Pietro Minotto
Terapeuta Cognitivo-Comportamental.

Ensaio sobre Coisas

 

artista-amjad-rasmi-evolucao-virando-codigo-de-barra-thumb-800x600-97881

 

Em meu tempo de escola, existia aula de redação, quando íamos escrever sobre algo e simplesmente usávamos o “coisa” a professora nos mandava elaborar melhor o texto (e isso era feito com um pedido em canata vermelha, algo aterrorizante na época!!).
Começo falando de um passado (não muito distante, mas ainda sim distante) para voltar ao presente.
Parece-me que atualmente vivemos na era da coisificação, se esse movimento já era crescente, penso que agora vivemos seu auge. Coisa, uma palavra interessante com tantos significados diferentes, e tão subjetivos muitas vezes. Uso aqui a palavra coisa no sentido objetal, e temo que o mundo esteja se tornando assim.
Exemplo clássico é no trânsito, quando entramos nos nossos carros, parece que deixamos de virar pessoas, viramos o carro propriamente dito, deixamos de enxergar os outros como pessoas e passamos a vê-los como carros, esquecemo-nos de gentilizas, do bom senso, e até mesmo do respeito em relação a outro ser humano, afinal de contas, não há outro ser humano ali, somente um carro (e olha que muitos colam adesivos pedindo gentileza). Mas o trânsito seria apenas um exemplo clássico, existem tantos outros pontos a serem refletidos… Podemos falar dos nossos trabalhos, quando começamos a trabalhar, vestimos a roupa de um cargo, uma posição, não somos mais quem éramos, somos nossa função… o problema maior não é sermos nossos cargos e funções no ambiente de trabalho (que por sí só já é um problema) o problema é que não conseguimos mais tirar as vestes desse cargo e vestimos ela onde quer que estejamos, seja numa festa, seja num parque, seja em nossa cama.
A situação vai se repetindo em várias situações, em diferentes contextos, até chegarmos aos aplicativos de paquera, onde a coisificação de todas situações e contextos diferentes parecem se unir. Não vemos a pessoa que ali está, não nos interessamos nos motivos que levou a ela estar ali, nem nos preocupamos em conhecê-la, afinal de contas, se não for com uma pessoa, ainda restam 35 opções… É o ápice da relação objetal, não se tem mais aquele frio na barriga de ter realmente gostado de alguém e estar ali “nervoso” falando com uma pessoa que possa representar algo, pois fala-se com uma e mais outras trinta pessoas ao mesmo tempo. A mágia da paixão foi ou está sendo, coisificada… Caminhamos para um futuro estranho (no mínimo), onde paixão se torna um objeto, relações são formadas não por sentimentos, mas sim por um currículo, pois passaremos a preencher uma vaga e não uma relação, daqui a pouco famílias irão escolher seus bebês por aplicativos também, ou dá like ou deslike, até que a cegonha traga a criança escolhida. Me preocupa essa situação toda num mundo que vem se tornando cada vez mais ansioso, onde a tomada de decisão se torna cada vez mais difícil (muito pela insegurança das incertezas, naturais do ansioso), me preocupa onde vamos chegar com essas “milhões” de coisificações.

Pietro B. Minotto.

Mudanças

mudanças

A vida por vezes parece ser tão dinâmica, tão veloz… E nem sempre somos algum velocista, não é mesmo? Acompanhar o ritmo das mudanças as vezes é um tanto quanto problemático, mesmo que a pessoa já tenha experiência em se mudar, seja de rua, bairro, cidade, estado e quiçá até país, sem citarmos aqui as mudanças não “físicas”. Nem sempre lidar com certas mudanças é algo tranquilo, na verdade quase nunca o são.

Mudanças são extremamente indivíduais, são sentidas e vivenciadas unicamente por nós, mas podem também envolver terceiros, no entanto, o que nos interessa aqui é a sensação que essa vivência acarreta sobre nós, como seres individuais. As mudanças nos fazem ativar nossas crenças a cerca de nós mesmos, lembrando sempre, que tais crenças nucleares, nem sempre são funcionais (reais), pois de acordo com a nossa história de vida construímos muitas vezes crenças distorcidas a cerca de nós mesmos e com isso criamos regras para lidar com essas crenças.

Alguns pessoas podem ter problemas para adaptar-se por “sentirem-se”, por exemplo,  vulneráveis (crença nuclear de vulnerabilidade) com o novo ambiente… Pessoas desconhecidas, situações novas, seja um emprego, uma escola, uma igreja, e até mesmo a rotinas novas (que nem sempre são as mais agradáveis). E com esse novo cenário na vida dessas pessoas vem a pergunta: “Meu Deus e agora? O que eu faço?”, os sintomas de ansiedade aparecem (tensão muscular, irritação, insônia, preocupações em excesso, medos, palpitações, nervosismo, pensamentos acelerados), e juntamente com esse cenário todo, muitos pensamentos automáticos (disfuncionais) aparecem junto… “Estou perdido(a)… não conheço ninguém aqui”; “E agora o que farei da minha vida (sem aquela pessoa)?”; “Como sobrevivarei a esse lugar totalmente desconhecido?”. Todos esses pensamentos são frutos das nossas crenças nucleares e nossas regras, que nesse caso acima poderiam respectivamente ser: “Já que sou vulnerável, então preciso me cercar de pessoas para estar seguro”; “Já que sou vulnerável, então preciso ter alguém para cuidar de mim”; “Já que sou vulnerável, então preciso conhecer muito bem o lugar onde vivo” (lembrando que o acesso a essas crenças e regras, não é um processo “consciente” e sim automatizado).

A intenção aqui não é dar um passo a passo, de como reestruturar uma crença nuclear disfuncional, mas sim dar algumas pequenas dicas do que fazer, se e quando isso acontecer com vocês. Então vamos lá: Aceite que a situação em que se encontra mudou, reviver o passado, ou viver no passado não ajudará em sua adaptação. Dúvide sempre do seu pensamento, ele pode estar correto (claro), mas também tem uma grande chance de ele estar incorreto, não custa nada tentar trazer um pouco esse pensamento pro racional, e encontrar fatos que possam desmascarar o medo, a preocupação, enfim a vulnerabilidade como um todo. Após duvidar de seus próprios pensamentos, aja, encoraja-se e se exponha a situações que possam lhe trazer autonomia, observe no final dessas experiências novas os ganhos que teve, lembrando que o próprio fato de desafiar-se já foi um ganho.

Você tem dificuldade em lidar com mudanças? A psicologia pode te ajudar a se compreender e agir melhor com essa dificuldade. Procure seu terapeuta.

 

Pietro Balmberg Minotto – Terapeuta Cognitivo-Comportamental.

Opinião e Julgamento Alheio no Processo de Mudança

10943108_10153071558059859_7279953960993008068_n

Não é raro eu ouvir pessoas que querem buscar uma melhoria em suas vidas, mas quase sempre “travam” por alguém que, elas consideram importantes ou não, emitirem opiniões e julgamentos que talvez não satisfaçam às suas expectativas.

Ora todos nós temos nossas regras, nossas crenças, e muitas vezes essa imobilidade diante uma  situação de julgamento alheio, reflete em nossos pensamentos a cerca dessas crenças e regras pessoais.

Se dermos um passo em direção a uma melhoria, e sentimos que estamos caminhando nessa direção, será que a opinião alheia deveria ter o poder de nós paralisar? A priori não, porém não é tão simplista assim. Funcionamos através de sistemas complexos desenvolvidos desde nossa infância, e por vezes esses sistemas não são desenvolvidos da forma mais funcional, ou seja, podem ocorrer “erros” cognitivos.

Então se uma pessoa decide, ou sente que sua autoimagem não está lhe agradando, e esta pessoa resolve dar um primeiro passo para mudar isso, hipoteticamente desliga a televisão ou seu game virtual e sai para fazer uma caminhada. No início recebe elogios, sente-se bem e tudo está funcionando perfeitamente de acordo com seus pensamentos, essa pessoa resolve arriscar-se mais e se inscreve numa academia, consulta um profissional da área de nutrição e passa a seguir tudo como diz a regra. No entanto, após uns meses começa a ouvir críticas e sua motivação acaba sendo prejudicada, então essa pessoa acabando ficando paralisada, sua frequência na academia cai, não consegue mais seguir o plano alimentar que lhe foi receitado, essa situação que se tornou uma constante, começa a desencadear pensamentos  “disfuncionais”, gerando sofrimento a essa pessoa.

Esta valorização (excessiva) da opinião alheia pode ser prejudicial em vários aspectos, podendo o sujeito ficar vulnerável a usar meios ilícitos para “conquistar” o corpo que a pessoa que lhe julgou, atribuiu ser um corpo melhor. Esta valorização do julgamento alheio pode levar a uma baixa autoconfiança e consequentemente desencadear transtornos afetivos do humor, além de gerar muito sofrimento para quem está vivenciando esta situação, assim como para os familiares.
A melhor forma de se fortalecer e prestar mais atenção em sua própria opinião ou julgamento é buscar por evidências, fatos, que fortaleçam (corroborem) para o fato de que existe de fato uma melhoria. Lembrar que cada pessoa tem uma genética diferente, possui históricos e condições médico-biológicas diferentes, enfim, que existe uma história de vida individual a cada sujeito. Acompanhe seu progresso de perto, tire fotos atuais e as compare com fotos de 3, 4 ou 5 anos atrás e veja se não existiu uma mudança. Vá além do físico, procure por fatos e evidência de sua saúde e bem estar e os compare com a atualidade também.
Lembre-se que o fato de teres saído da cama e decidido mudar, já é uma grande mudança, que cada um tem seu próprio tempo e sua individualidade. Busque as evidências e eu te desafio a provar que não mudaste em nada!?

Pietro Minotto – Psicólogo Cognitivo-Comportamental.

Modelo Cognitivo – Comportamental e a nossa Percepção.

A terapia cognitiva foi idealizada por Aaron Tim Beck no começo dos anos 1960, com apoio teórico de outras fontes como o filosofo Epiteto, e os cientistas Albert Ellis e Albert Bandura. Beck buscava uma explicação alternativa para a depressão (que na época era explicada quase que unicamente pela psicanálise), por explicações que fossem passíveis de validações empíricas e que seguissem o modelo pragmático exigido pela comunidade científica norte-americana.

Aaron T. Beck identificou cognições negativas e distorcidas (pensamentos e crenças) como características principais da depressão e desenvolveu um tratamento em que um dos objetivos primordiais era o teste de realidade do pensamento depressivo dos indivíduos, direcionando o tratamento para solução de problemas atuais e modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais e ou distorcidos (Beck 1964).

O modelo cognitivo-comportamental segue a premissa de que “as emoções, os comportamentos e a fisiologia de uma pessoa são influenciadas pelas percepções que ela tem dos eventos” (J.BECK 2013), ou seja a forma como interpretamos uma situação é que irá determinar como nos sentimos e como nos comportamos e não a situação em si. Em outras palavras a forma como pensamos a cerca de determinados eventos irá interferir em como nos sentimos e agimos (nos comportamos), podendo desencadear pensamentos em cadeia para uma serie de situações/ eventos, consequentemente determinado como nos sentiremos e nos comportaremos diante esses eventos.modelocognitvo

Portanto no modelo cognitivo é fundamental identificarmos os pensamentos automáticos, que são “um fluxo de pensamentos que coexistem com um fluxo de pensamentos mais manifesto, mais superficial” (Beck 1964), por exemplo, uma pessoa que tem uma discussão com o chefe pela manhã, ao mesmo tempo em que interpreta o que o chefe está falando, pode estar tendo outro fluxo de pensamento coexistente de cunho avaliativo sobre si mesmo: “nossa ele deve me achar idiota, não faço nada certo…”, este seria um exemplo de pensamento automático desta pessoa, que poderia acabar generalizando esta situação, e acabar interpretando qualquer conversa com o chefe, como se o mesmo o estivesse avaliando negativamente.

Pensamentos automáticos ocorrem espontaneamente, são rápidos e de difícil acesso, é preciso prática para começar a captá-los. Os pensamentos automáticos refletem as bases cognitivas, ou seja, as crenças que a pessoa tem, por crença entende-se como aquilo que “pensamos” de forma mais incrustada, profunda, acerca de nós mesmos, são autoconceitos, que não precisamos acessar, pois ao longo de nossa vida, fomos confirmando e reafirmando esses conceitos repetidamente ao modo que eles são, o que nós pensamos que somos.  Nossas crenças trabalham em prol da manutenção do funcionamento coeso de nosso “aparelho” psicológico, portanto criamos regras e pressupostos (estratégias) para lidar com as situações, de acordo com nossas crenças, que acabam funcionando como um par de lentes, ou seja, acabamos interpretando as situações, de acordo com nossas crenças (nossas lentes), de modo a deixar as situações mais coesas para nós mesmos.

Então vemos o exemplo de uma pessoa que cresceu num ambiente hostil, desde criança, aos 06 anos, tinha que cuidar dos irmãos, que eram mais novos, era responsabilizado pelos machucados dos irmãos (que criança não cai e machuca o joelho??) com a seguinte fala dos pais: “Você é inútil, nem pra vigiar seus irmãos serve…” durante os anos, esta pessoa foi confirmando as crenças de ser inútil perante responsabilidades (que começou lá na infância), na faculdade, quando ia realizar trabalhos de pesquisa, quando algum não dava certo (não obtia uma nota satisfatória) imediatamente lembrava-se dos pais falando que era inútil e não servia para nada.  Já na fase adulta, sua crença de inutilidade estava formada, incrustrada e, portanto, acreditava que isso era uma verdade sobre seu ser, quando apareceu uma atividade em seu trabalho, onde essa pessoa foi escolhida como responsável, vieram os pensamentos: “Nossa, e agora? Como explicarei para meu chefe, quando ele descobrir que isso não vai dar certo?”; “Não sei fazer isso… sou inútil mesmo…”; “Preciso dar o fora daqui, antes que o pior aconteça…”; “É agora que vão descobrir como sou inútil”, em consequência a esses pensamentos, este indivíduo sentiu uma enorme tristeza e ansiedade (emoções), a ponto de ficar confabulando como convenceria o chefe de que o melhor seria demiti-lo, pois por ser muito inútil não tinha serventia para a empresa.  E foi exatamente este seu comportamento, marcou uma reunião com o chefe para lhe convencer a ser demitido.  A visão que este sujeito tinha do mundo, é que o mundo era um lugar hostil demais e que a qualquer comportamento que ele expressasse, poderiam critica-lo por ser inútil.

No exemplo acima vimos como nossa percepção é formada através de nossas crenças, e por vezes essas crenças estão distorcidas da realidade.  O fato de uma pessoa ter aprendido que é inútil, não quer dizer que outras pessoas achem-na inútil, pois cada pessoa percebe o mundo de formas diferentes, cada pessoa tem suas próprias crenças e formas de ver o mundo.  Não existe com isso um modo correto de se ver e viver o mundo e sim um modo mais saudável e funcional, para isso é importante estar disposto a primeiramente avaliar os pensamentos, até identificar crenças que façam sentido de serem analisadas e modificadas, a fim de que em um período de tempo consiga-se testar novas formas de pensar, novas formas de ver o mundo,  gerando assim uma ressignificação, uma reestruturação cognitiva.

Observação: O exemplo supracitado é fictício.

Pietro B. Minotto

– Psicólogo Cognitivo-Comportamental –

O DIFÍCIL PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO:

10406359_10153084243249859_5206704769949597488_n

Muitas vezes quando nos voltamos a olhar fotos do “antes e depois” de pessoas famosas na internet, corremos o risco de nos deparar com pensamentos e emoções não muito agradáveis, principalmente se já passamos por um processo de transformação, no qual julgamos termos falhado. Buscar fotos próprias do momento em que se passava pelo processo de transformação, no qual a motivação e a autoconfiança estavam elevadas, e comparar com o momento atual, onde talvez, por julgamento próprio, a autoimagem não representa aquilo que gostaria de se ver, pode ser um risco para algumas pessoas, no que diz respeito à manutenção e continuidade do processo de transformação.
O modelo cognitivo segue a hipótese de que as emoções e comportamentos, assim como a fisiologia, são influenciados pelas percepções que uma pessoa tem dos eventos. Nossos pensamentos sobre as situações (nossas interpretações) nos levam as nossas crenças, aquilo que “pensamos” de forma mais incrustada, profunda, acerca de nós mesmos. No entanto essas interpretações por vezes podem aparecer de formas distorcidas, o que se nomeia de erros cognitivos.
Logo temos, hipoteticamente, uma pessoa que após um tempo obtendo resultado com um programa de transformação corporal, acaba descuidando-se um pouco nas festas de fim de ano, com amigos e familiares, permitindo-se a comer alimentos, que em outra época do ano, não teria se permitido. Une-se a esta situação o fato da pessoa em questão estar de férias. Logo temos fatores ambientais e culturais relevantes: férias, confraternizações com amigos e familiares, festas de final de ano. O novo ano começa e a pessoa olha para o espelho e logo vem o pensamento: “Meu Deus! O que foi que eu fiz? Pus tudo a perder!!! Fracassei!”. A interpretação que essa pessoa teve foi de ter fracassado, sua motivação e autoconfiança começam a ficar rebaixadas, e a cada vez que essa pessoa passa por um espelho ou reflexo de vidro, esse pensamento de fracasso, vem atormentá-la. Notamos que aqui aparece um erro cognitivo (de interpretação dos fatos) chamado de catastrofização, que é quando a pessoa atribui consequências desproporcionais ao evento. Ora, a pessoa iniciou um processo de transformação, seguiu as recomendações profissionais ao longo de um ano e permitiu-se a uns dias sem a pressão de seguir àquelas regras rígidas, para celebrar com pessoas importantes à ela, será que é possível nomear-se um fracassado, por ter saído do processo por alguns dias? É possível perder todas as conquistas de um ano de trabalho em poucos dias?
A importância das evidências nesse caso é fundamental para tornar essas interpretações da realidade, menos distorcidas. Um diário de alimentação, juntamente com um diário de evolução corporal contendo medidas de peso, percentual de gordura (principalmente), circunferências, ajudam muito nesse momento, pois a pessoa poderá comprovar e perceber que não “voltou ao zero”, perceber com os dados anotados, que não se é um fracasso, e poderá assim, corrigir o erro cognitivo de catastrofização, admitindo, sim, que talvez possa melhorar, mas isso não significa que tenha fracassado, e sim que continua no processo de transformação. Faz-se tão importante quanto os diários anteriormente citados, um diário de pensamentos (registro de pensamentos) a fim de observarem-se as mudanças nos padrões de pensamentos e comportamentos, ao longo do processo de transformação.
Lembre-se que uma vez que foi dado o primeiro passo, nunca será “voltar do zero”, podem acontecer desvios no caminho, aparecerem obstáculos, mas o primeiro passo já foi dado. Se arme com evidências positivas (que contrariam os pensamentos distorcidos), comemore cada pequena conquista, aproveite as adversidades para testar suas evidências positivas. Coloque em jogo não só a transformação corporal, mas desafie-se a mudar os seus padrões de pensamentos e consequentemente de comportamentos. Lembre-se da frase em latim muito famosa nos dias de hoje: Mens Sana in Corpore Sano (mente sã em um corpo são), pois é tão importante cuidar da mente, quanto do corpo, o processo de transformação do corpo, não ocorre sem uma transformação da mente.

Pietro Minotto – Psicólogo Cognitivo-Comportamental.

Nós somos o que comemos?

somos o que comemos Tenho visto em abundância nos dias de hoje artigos com a afirmativa de que somos aquilo que comemos, principalmente daqueles envolvidos no mundo fitness.

Ora, então eu sou uma galinha, pois como muito frango, ou às vezes sou uma batata doce… ou ainda devo ser uma torta de chocolate?! Entendo o motivador que leva aqueles que utilizam tal afirmativa, percebo ali uma tentativa de reforçar seus iguais, ou até mesmo de gerar um autoreforço sobre seu comportamento alimentar.

No entanto, acredito que essa afirmativa é enxuta por demais, pois não somos somente o que comemos… Somos um conjunto de situações, opções; e escolhas. E certamente onde tudo isso se inicia é em nossos cérebros, logo eu afirmaria: “Somos aquilo que pensamos!”.

Em poucas palavras podemos dizer que, segundo o raciocínio cognitivo-comportamental, a fonte dos nossos comportamentos e emoções, assim como nosso estado fisiológico, está em nossas crenças, que são conceitos e ideias, profundos e rígidos acerca de nós mesmos, “são ideias que a pessoa considera como verdade absoluta – é como as coisas são” (Beck 1987). Através dessas crenças criamos estratégias e regras para lidar com tais conceitos e ideias, que são refletidas em nossos pensamentos.

A forma de lidar com os alimentos também está muito relacionada às nossas crenças e forma de pensar (pensamentos automáticos – aqueles que surgem quase instantaneamente ao lidarmos com alguma situação), por exemplo, ao entrar numa dieta, uma pessoa se esforça e com isso acaba obtendo algum resultado, as pessoas começam a elogiar e ela se sente cada vez mais motivada, no entanto, após algum tempo, para as pessoas o “novo” estilo de vida daquela pessoa já se tornou natural e param de elogiá-la, com isso a pessoa para de sentir-se reforçada (sem os estímulos reforçadores dos elogios) e passa a temer a dieta, uma serie de pensamentos lhe ocorrem – “Não vou dar conta!”, “Preciso comer meu chocolate”, “Nossa estou tão triste hoje… vou comer alguma coisa para me alegrar”, “Será que não estou mais tendo resultado? Ninguém me elogia mais…”, “Sou um fracasso mesmo… ninguém nota minha perda de peso… vou chutar o balde…” com isso a pessoa passa a sentir reações fisiológicas desagradáveis, um estado de ansiedade, insegurança, incerteza, um “frio” na barriga, ou um “vazio” no estômago – Esses são alguns dos pensamentos possíveis que acabam por resultar em um comportamento alimentar contrário ao da dieta e de seus objetivos (assim como um estado fisiológico desfavorável).

Quando se busca por um objetivo, seja ele o emagrecimento, por questão de saúde física, ou até mesmo outros objetivos, que não estejam ligados necessariamente à saúde física, mas ao bem estar – saúde mental – se torna importante trabalhar com um pensamento multidisciplinar, pois como vimos no exemplo acima, as ideias e os conceitos de si próprio influenciam no modo em que nos alimentamos em que praticamos algum exercício físico, enfim, no modo em que nos desenvolvemos e relacionamos com o mundo. É importante para o objetivo individual de cada um, se alimentar e se exercitar apropriadamente.

Seguindo essa premissa podemos encontrar várias situações diferentes possíveis. Uma pessoa pode, por exemplo, ser altamente rígida com sua dieta e com exercícios físicos, porém isso para ela é uma estratégia de lidar com uma crença de que ela não é atraente, e para ela é importante ser atraente, pois só irá conseguir se posicionar no mundo se assim o for. Outra pessoa poderia ser relapsa com sua dieta e não fazer nenhum tipo de atividade física, e também seria uma forma de lidar com a crença de que não é atraente – “Já que não sou atraente, não adianta eu me esforçar…”, no entanto para essa pessoa a importância da atração não é um determinante para se posicionar perante o mundo. Isso são exemplos de como uma pessoa se relaciona e se desenvolve no mundo, longe de qualquer interesse em julgar o certo ou errado.

No campo da cognição e comportamento, se faz importante trabalhar a análise e combate de pensamentos disfuncionais (distorcidos), testar novos padrões de pensamentos e comportamentos em situações pré-programadas, e analisá-los sobre uma perspectiva de mudança de paradigmas, com o objetivo de se fazer uma reestruturação cognitiva, tornando a vida da pessoa mais funcional, perante aos objetivos que ela tem.

Portanto, não somos o que comemos, mas sim o que pensamos, comemos e fazemos. Funcionamos, nesse caso especifico, como um sistema onde todas “engrenagens” precisam funcionar em harmonia, pois se alguma dessas engrenagens situacionais não funcionar, provavelmente não alcançaremos o objetivo almejado. No entanto a matriz, da força de vontade, está em nossos cérebros, logo se for para enfatizar algo que somos, eu digo: Somos o que pensamos!

Pietro Balmberg Minotto – Psicólogo Cognitivo-Comportamental.