Modelo Cognitivo – Comportamental e a nossa Percepção.

A terapia cognitiva foi idealizada por Aaron Tim Beck no começo dos anos 1960, com apoio teórico de outras fontes como o filosofo Epiteto, e os cientistas Albert Ellis e Albert Bandura. Beck buscava uma explicação alternativa para a depressão (que na época era explicada quase que unicamente pela psicanálise), por explicações que fossem passíveis de validações empíricas e que seguissem o modelo pragmático exigido pela comunidade científica norte-americana.

Aaron T. Beck identificou cognições negativas e distorcidas (pensamentos e crenças) como características principais da depressão e desenvolveu um tratamento em que um dos objetivos primordiais era o teste de realidade do pensamento depressivo dos indivíduos, direcionando o tratamento para solução de problemas atuais e modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais e ou distorcidos (Beck 1964).

O modelo cognitivo-comportamental segue a premissa de que “as emoções, os comportamentos e a fisiologia de uma pessoa são influenciadas pelas percepções que ela tem dos eventos” (J.BECK 2013), ou seja a forma como interpretamos uma situação é que irá determinar como nos sentimos e como nos comportamos e não a situação em si. Em outras palavras a forma como pensamos a cerca de determinados eventos irá interferir em como nos sentimos e agimos (nos comportamos), podendo desencadear pensamentos em cadeia para uma serie de situações/ eventos, consequentemente determinado como nos sentiremos e nos comportaremos diante esses eventos.modelocognitvo

Portanto no modelo cognitivo é fundamental identificarmos os pensamentos automáticos, que são “um fluxo de pensamentos que coexistem com um fluxo de pensamentos mais manifesto, mais superficial” (Beck 1964), por exemplo, uma pessoa que tem uma discussão com o chefe pela manhã, ao mesmo tempo em que interpreta o que o chefe está falando, pode estar tendo outro fluxo de pensamento coexistente de cunho avaliativo sobre si mesmo: “nossa ele deve me achar idiota, não faço nada certo…”, este seria um exemplo de pensamento automático desta pessoa, que poderia acabar generalizando esta situação, e acabar interpretando qualquer conversa com o chefe, como se o mesmo o estivesse avaliando negativamente.

Pensamentos automáticos ocorrem espontaneamente, são rápidos e de difícil acesso, é preciso prática para começar a captá-los. Os pensamentos automáticos refletem as bases cognitivas, ou seja, as crenças que a pessoa tem, por crença entende-se como aquilo que “pensamos” de forma mais incrustada, profunda, acerca de nós mesmos, são autoconceitos, que não precisamos acessar, pois ao longo de nossa vida, fomos confirmando e reafirmando esses conceitos repetidamente ao modo que eles são, o que nós pensamos que somos.  Nossas crenças trabalham em prol da manutenção do funcionamento coeso de nosso “aparelho” psicológico, portanto criamos regras e pressupostos (estratégias) para lidar com as situações, de acordo com nossas crenças, que acabam funcionando como um par de lentes, ou seja, acabamos interpretando as situações, de acordo com nossas crenças (nossas lentes), de modo a deixar as situações mais coesas para nós mesmos.

Então vemos o exemplo de uma pessoa que cresceu num ambiente hostil, desde criança, aos 06 anos, tinha que cuidar dos irmãos, que eram mais novos, era responsabilizado pelos machucados dos irmãos (que criança não cai e machuca o joelho??) com a seguinte fala dos pais: “Você é inútil, nem pra vigiar seus irmãos serve…” durante os anos, esta pessoa foi confirmando as crenças de ser inútil perante responsabilidades (que começou lá na infância), na faculdade, quando ia realizar trabalhos de pesquisa, quando algum não dava certo (não obtia uma nota satisfatória) imediatamente lembrava-se dos pais falando que era inútil e não servia para nada.  Já na fase adulta, sua crença de inutilidade estava formada, incrustrada e, portanto, acreditava que isso era uma verdade sobre seu ser, quando apareceu uma atividade em seu trabalho, onde essa pessoa foi escolhida como responsável, vieram os pensamentos: “Nossa, e agora? Como explicarei para meu chefe, quando ele descobrir que isso não vai dar certo?”; “Não sei fazer isso… sou inútil mesmo…”; “Preciso dar o fora daqui, antes que o pior aconteça…”; “É agora que vão descobrir como sou inútil”, em consequência a esses pensamentos, este indivíduo sentiu uma enorme tristeza e ansiedade (emoções), a ponto de ficar confabulando como convenceria o chefe de que o melhor seria demiti-lo, pois por ser muito inútil não tinha serventia para a empresa.  E foi exatamente este seu comportamento, marcou uma reunião com o chefe para lhe convencer a ser demitido.  A visão que este sujeito tinha do mundo, é que o mundo era um lugar hostil demais e que a qualquer comportamento que ele expressasse, poderiam critica-lo por ser inútil.

No exemplo acima vimos como nossa percepção é formada através de nossas crenças, e por vezes essas crenças estão distorcidas da realidade.  O fato de uma pessoa ter aprendido que é inútil, não quer dizer que outras pessoas achem-na inútil, pois cada pessoa percebe o mundo de formas diferentes, cada pessoa tem suas próprias crenças e formas de ver o mundo.  Não existe com isso um modo correto de se ver e viver o mundo e sim um modo mais saudável e funcional, para isso é importante estar disposto a primeiramente avaliar os pensamentos, até identificar crenças que façam sentido de serem analisadas e modificadas, a fim de que em um período de tempo consiga-se testar novas formas de pensar, novas formas de ver o mundo,  gerando assim uma ressignificação, uma reestruturação cognitiva.

Observação: O exemplo supracitado é fictício.

Pietro B. Minotto

– Psicólogo Cognitivo-Comportamental –

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